Infelizmente esse é o pensamento de muitas famílias quando a criança/adolescente “não consegue” perder peso.

Isso pode acontecer, porque hoje em dia ir ao nutricionista virou sinônimo de restrição alimentar e perda de peso imediata. “Eu excluo tudo o que gosto e automaticamente perco peso”. Ainda temos as redes sociais, reforçando a “beleza” da perda de peso: “perdeu 5kg em 1 mês!”, “Meta alcançada! Menos 4kg! Agora só faltam 6kg!” Como se fosse apenas isso. E não é bem assim!

Precisamos trabalhar com a criança/adolescente e sua família suas crenças, pensamentos, sentimentos, atitudes em relação à comida, em relação ao ato de comer. Precisamos saber mais sobre seus hábitos, dia a dia, rotina e preferências. E não focar apenas nos nutrientes, peso, isso “pode”, aquilo “não pode”, lista de “bons e ruins”, porque o objetivo é que tenhamos uma mudança possível, gradual e duradoura, uma mudança que criança e família possam levar para a vida. Sendo assim, na abordagem comportamental, o peso não é o foco do acompanhamento nutricional. Mas, ele pode ser uma das consequências da mudança de comportamento da criança e da família.

Quando o foco é a perda de peso há 2 preocupações:

  1. Você não come o que gosta > não sente mais prazer em comer > se priva > restringe > exclui > perde peso em curto prazo > fica feliz com isso. Mas, pode ser que você não consiga viver assim por muito tempo. Come o que gosta > se culpa > sente-se mal > acha que tudo o que fez não valeu a pena > “você é um fracassado e sem força de vontade” > come mais > volta a ganhar peso > não aceita o seu corpo > fica insatisfeito e com pensamentos e sentimentos “distorcidos” em relação à comida.
  2. Você se priva > não come o que gosta > restringe > não sente prazer em comer > segue todas as regras impostas pelo profissional e/ou pela sociedade > não aceita o seu corpo e não consegue perder peso. Você se frustra > fica triste > acha que não valeu de nada tanto esforço.

Mas, será que apenas o peso é o melhor parâmetro para avaliar o sucesso do acompanhamento nutricional?

Muitas vezes a criança realmente pode não perder peso no primeiro momento. Mas, há grandes conquistas alcançadas em relação ao seu comportamento e melhora dos exames laboratoriais (a depender do caso) ou dos sintomas e algum desconforto. Vejo crianças comendo com prazer, sem restringir nem “cortar” nada da sua alimentação. Vejo crianças e famílias motivadas e que junto comigo traçam as suas metas, ou seja, elas mesmas decidem qual será o próximo passo, que pode ser dormir mais cedo, andar de bicicleta, comer 1 fruta, mastigar mais devagar, não assistir TV enquanto come. Enfim, vamos traçando as metas juntos e você percebe que nem sempre a comida pode ser a meta.

E o peso? No primeiro momento, pode aumentar um pouco (mas, a criança também ganha altura) – afinal de contas ela também está em fase de crescimento ou pode ficar estável (mantido) ou reduzir um pouco. Para todas as situações eu valorizo as suas conquistas alcançadas diante das metas que traçamos juntos. A criança que logo perde peso não é mais vitoriosa ou engajada do que aquela que não perdeu.

Sim, realmente há casos em que a perda de peso é necessária, pois pode haver complicações associadas ao excesso de peso. Mas, mesmo assim, há muito o que se trabalhar além do peso. E esse valor numérico será uma consequência da mudança de comportamento, que ocorre aos poucos.

Texto escrito por Amanda Guimarães | Nutricionista infantil